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Tragédia do Morro da Boa Esperança – Levantamento feito em 2009 já apontava risco de deslizamento
O rompimento e o deslizamento de uma pedra no Morro da Boa Esperança, que deixaram 15 mortos, não eram um incidente iminente para a Prefeitura de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. No entanto, um professor da Universidade Federal Fluminense fez um levantamento completo da região e dizia, já em 2009, que o risco de deslizamentos na região era “médio”, e que todos os morros da cidade precisavam deste acompanhamento.
Segundo relatório, o morro precisava de monitoramento constante por causa da possibilidade de deslizamento e das construções irregulares na área. O que aumentou o risco de deslizamento, segundo Elson Nascimento, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, foi a ocupação irregular, que mudou a forma de drenagem da água da chuva e pode ter causado infiltrações que deixaram o solo úmido.
“Não é só uma questão hidrotécnica e hidrológica, é uma questão de ocupação, de habitação para a população de baixa renda. Então, a expectativa que se tem é que essas situações tenham piorado, devido a essas ocupações nas encostas”, afirmou Elson Nascimento, professor do Departamento de Recursos Hídricos da UFF.
No ano passado, a Defesa Civil de Niterói interditou casas na comunidade. “A prefeitura já sabia que ia acontecer. Falou que ia tomar providência e não tomou providência nenhuma”, contou a empregada doméstica Rosimeri da Silva.
Uma das vítimas do deslizamento no Morro da Boa Esperança se chamava Maria Madalena. Dez anos atrás, a casa dela já tinha sido atingida por outro deslizamento. A vítima foi morar com um vizinho e, pouco tempo depois precisou voltar para a casa onde morreu no último sábado (10).
Em 2010, o subsecretário de Defesa Civil assinou laudo interditando a casa da empregada doméstica Sandra da Silva Francisco por risco de desabamento. “A Defesa Civil tinha condenado o lugar, pedimos ajuda, fizemos um cadastramento do Minha Casa, Minha Vida e o aluguel social, foi tudo muito demorado, tivemos que voltar”, disse Sandra.
Apesar dos laudos, relatos e do histórico de deslizamentos, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, disse que o Morro da Boa Esperança não é uma área de alto risco.
Segundo o coronel da Defesa Civil de Niterói, Wallace Medeiros, as chuvas que ocorreram antes do deslizamento de sábado não foram fortes o suficiente para transformar a área em um local de alto risco de deslizamentos. Para ele, a comunidade não possui sirenes funcionando, mas talvez não fosse o suficiente para evitar a tragédia.