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Por que somos assim?
Por Ana Fonte ([email protected])
Olá queridos leitores, me chamo Ana Fonte, sou graduada em Artes Dramáticas pela UniverCidade e desde que me entendo por gente sou envolvida com arte. Já flertei com a dança, me apaixonei pelo cinema e me casei com o teatro. Hoje estou tendo a grande oportunidade de me divertir com a escrita. Mas essa paquera já existe há 5 anos, quando decidi, assim como quem não quer nada, criar um blog (artedafonte.blogspot.com.br) . Estava à toa, com uma grande necessidade de expressar as minhas lamurias + pensamentos + divagações + deslumbres + vislumbres… uma necessidade de mostrar o que penso à respeito de todas as artes que encontro em meu caminho. Seja filme – peça – pinturas – poemas – músicas – e esse agora vai ser o meu cantinho pra me abrir com vocês. Vou falar um pouco do que, de alguma forma, me atraia ou me repila, me entusiasme ou me desanime, me faça querer viver ou morrer.. vou falar… assim, só por falar. Nada demais.
Beijo na alma.
Era noite de sexta-feira na Lapa, Rio de Janeiro, ela estava meio perdida e um pouco “altinha” por ter bebido mais do que o normal. Mas era sexta, então não se importava muito. Encontrou depois de anos, aproximadamente uns 8 anos, alguns amigos da pré-adolescência. Estava feliz em revê-los depois de tantos anos passados. Agora, pela primeira vez, bebia na presença deles. Mais que bebia, compartilhava a mesma bebedeira e também o primeiro maço de cigarro . Todos alegres, felizes e com sensação de redescobrimento da amizade antiga e preciosa.
Muitas gargalhadas, gritos, cigarros, fotos, fofocas, pinga, cigarros, raggae e cigarros.
Ela de repende escuta:
– Tia, compra um “xicreti” aê.
– Oi? ( bêbada e um pouco assustada)
– Me ajuda aê. por favor tia.
– Mas quantos anos você tem menino? ( doce e preocupada)
– Tenho 6.
– Mas já são 1:37 da madrugada. Você devia tá dormindo, meu Deus!
Ela repara o olhar do menino: duas jabuticabas pretas pedindo carinho e atenção. Ela acha que ainda existia uma esperança.. mas era esperança pisada e retorcida.
– Como você se chama?
– Ronald.
– Você já comeu hoje, Ronald ?
Fez que não com a cabeça.
– O que você gostaria MUITO de comer agora? Fala que eu compro pra você. Quer um Hambúrguer bem gordão gosto
– Eu quero fofura, Tia.
– Oi? Fofura???!!!
– Aham!
Ela reparou que ele falava a verdade, porque enquanto mexia a cabeça pra cima e pra baixo, soltava um sorriso de orelha a orelha e os olhinhos de infância pisada e retorcida estavam resplandecentes.
– Uma fofura aqui pro meu amiguinho Ronald, por favor!
Ele pegou a fofura como se fosse a comida mais impossível e deliciosa. Ela entendeu a felicidade, pois ele era uma criança de 6 anos.. crianças desejam besteiras.
Ela teve que dobrar um pouco os joelhos quando deu um beijo carinhoso na careca do menino que parecia estar radiante por comer a sua tão sonhada fofura.
– Tchau. Vai com Deus, Ronald. ( ou pelo menos tente ir, ela pensou.)
Ele se foi, não foi muito difícil ele se perder na multidão da Lapa. Ela agora não o via mais.
Um amigo, o da infância, de 8 anos atrás, bêbado e fumando um cigarro falou:
– Pronto fulana, agora você pode correr pro banheiro e lavar a boca.
Ela via risadas, mas não as ouviam. Ela teve nojo? Ela teve. Mas não sabia exatamente de quem.
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