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Fruto da Terra: Antonio Callado
Escritor que sempre transitou do jornalismo à literatura, e vice-versa, Antonio Carlos Callado é, talvez, o mais expressivo fruto de Niterói. Filho de uma família de classe média alta, o jornalista, romancista, biógrafo e dramaturgo, fez parte representativa da intelectualidade do país, sendo membro da Academia Brasileira de Letras durante três anos.
Nascido em 26 de janeiro de 1917, Callado mudou-se ainda jovem para Petrópolis, região serrana do Rio, pois seu pai, tuberculoso, necessitava de um ambiente mais puro para viver. Com o falecimento de seu pai, ele precisou trabalhar muito cedo, quando começou a ingressar na carreira de jornalista, ao mesmo tempo que desdobrava seu tempo na faculdade de Direito.
No entanto, apesar de formado em Direito, em 1939, sua carreira profissional deu-se na imprensa: passou de repórter a redator-chefe do extinto Correio da Manhã. Em 1941 foi para Londres e lá exerceu a função de correspondente de guerra da BBC, emissora na qual permaneceu por vários anos. Na BBC, conheceu Jean Maxine Watson, funcionária do canal, com que se casou, em 1946, tendo três filhos, entre eles a atriz Tessy Callado.
Literatura – Na capital inglesa, Callado conhece o livro “sua tremenda fome de Brasil”, que muda radicalmente sua maneira de pensar e escrever. Lê incansavelmente livros de literatura brasileira e alimenta o desejo de, ao voltar, conhecer mais o interior de seu país. Quando retornou ao Correio da Manhã, em 1947, faz grandes reportagens pelo Nordeste, pelo Xingu, sobre Francisco Julião, Miguel Arraes e outras figuras importantes da nossa cultura.
Sua estréia como escritor acontece em 1951, em produções de peças teatrais, todas encenadas com enorme sucesso de crítica e público. A mais bem sucedida foi “Pedro Mico”, dirigida pelo também jornalista Paulo Francis e que tinha o arquiteto Oscar Niemeyer em inusitada incursão pela cenografia. Essa obra, anos depois foi transformada em filme estrelado por Pelé.
A produção de romances toma impulso nas década de 1960 e 1970, período em que surgem seus trabalhos mais importantes. Alinhado entre os intelectuais que se opunham ao regime militar, tendo por isso sido preso duas vezes, Callado revela em seus romances seu compromisso político, principalmente naquele que muitos consideram o romance mais engajado daquelas décadas, “Quarup”, em 1967. Apesar da opressão da ditadura, por suas obras, Callado recebeu diversas condecorações e prêmios, no Brasil e no exterior.
Passagens marcantes – Como redator-chefe do Correio da Manhã, Callado foi contratado pela Enciclopédia Britânica para chefiar a equipe que elaborou a primeira edição da Enciclopédia Barsa, publicada em 1963. Depois, passou a trabalhar no Jornal do Brasil cobrindo, em 1978, a Guerra do Vietnã. Em 1974, deu aulas nas universidades de Cambridge, na Grã-Bretanha, e Columbia, nos Estados Unidos. Em 1975, deixa a rotina das redações para dedicar-se profissionalmente à literatura. Nesse período conhece a também jornalista e escritora Ana Arruda, com quem se casa em 1977.
Em 1994, Callado foi admitido na Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se o quarto ocupante da cadeira 8, em substituição a Austregésilo de Ataíde, que, por várias décadas, presidiu a entidade. Antonio Callado faleceu dois dias depois de seu aniversário de 80 anos, em 28 de janeiro de 1997.
“O escritor está sempre trabalhando em um livro, mesmo quando não está escrevendo” (Antonio Callado)
