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Documentário conta passagens de Vinícius de Moraes em Niterói

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Vinicius-de-MoraesPor Igor Calazans

Neste sábado, 19 de outubro, o poeta, compositor e diplomata Vinícius de Moraes completaria 100 anos de vida. Dos mais conceituados nomes do cenário cultural do país, o centenário do “Poetinha” é motivo de inúmeras homenagens em todo o Brasil e em Niterói não será diferente.

Pouca gente sabe, mas Vinícius de Moraes passou algumas fases de sua vida em Niterói. Ainda há dúvidas ao saber se ele chegou a morar por aqui, no entanto, é certo que visitava muito a cidade para rever amigos. Geralmente, Vinícius ficava hospedado na casa do pintor Carlos Leão, em São Francisco.

Por conta disso, através de muitas pesquisas e entrevistas, o cineasta niteroiense Mateus Cardoso (foto abaixo) resolveu ir a fundo nessa história para produzir o documentário “Balada do Cavalão – A Poesia que Desconhecemos”, que destrincha, além das passagens de Vinícius pela cidade, as razões do poema “Balada do Cavalão”, escrito por Vinícius na década de 40.

“A ideia inicial é tornar essa história conhecida,visível. O filme narra através de entrevistas de mestres em literatura e produtores 222503_492873957412967_1582040785_nculturais,  a história entre Vinicius de Moraes, o Morro do Cavalão e Niterói, até então desconhecida pela maior parte da população niteroiense. Como não é uma poesia muito divulgada, a maior dificuldade foi encontrar pessoas que pudessem falar sobre esse poema. Temos a ideia de expandir para as escolas, ajudando na educação de muitos jovens estudantes de Niterói.”, explicou Mateus, que salientou detalhes da vida de Vinícius em suas andanças pela cidade.

“Vinicius costumava andar a cavalo na hípica que existia em Charitas, que era muito famosa e bem frequentada pela nata da sociedade. Ele percorria e passava pelo horto do Cavalão (na época era uma fazenda), em 1942. Nessa época ele ainda era diplomata, mas já havia começado a escrever poesias. Uma coisa que não podemos afirmar, foi que depois da separação da sua primeira mulher, Vinicius veio se refugiar em Niterói para curar uma possível depressão”, destacou o cineasta.

Em relação ao poema “Balada do Cavalão”, Vinícius escreve a obra num período de sua vida em que começava a ganhar maior ligação à cultura popular, o samba e as raízes africanas.  O gênero de escrita denominado Balada (Francês) era um tipo de literatura que estava em moda na época, e Vinicius, até então um poeta totalmente erudito, aperfeiçoou-se nessa forma mais popular de escrever.

“A Balada era mais popular, era para ser entendida, falava de coisas do cotidiano. Ele adorou essa fórmula menos intelectual de escrever. A Balada do Cavalão parte desse momento pessoal de Vinícius. Reza a lenda que ele escreveu em um refúgio na casa do pintor Carlos Leão, logo após o nascimento de sua primeira filha e a combinação da separação de sua primeira esposa, que foi embora para os Estados Unidos, o que o deixou em uma profunda solidão”, contou Mateus. 1377510_542014875866834_1725403708_n

O filme “Balada do Cavalão – A Poesia que Desconhecemos” será exibido no Teatro Municipal de Niterói, no Centro, no próximo dia 25, às 21h. O documentário também está rodando em algumas escolas da cidade, tanto da rede municipal, quanto particular. Além disso, o filme será exibido em diversos festivais de curta-metragem. Leia abaixo, na íntegra, o poema de Vinícius de Moraes – “Balada do Cavalão”.

BALADA DO CAVALÃO

A tarde morre bem tarde
No morro do Cavalão…
Tem um poder de sossego.
Dentro do meu coração
Quanto sangue derramado!

Balança, rede, balança…

Susana deixou minha alma
Numa grande confusão
Seu berço ficou vazio
No morro do Cavalão:
Pequena estrela da tarde.

Ah, gosto da minha vida
Sangue da minha paixão!

Levou o anjo o outro anjo
Da saudade de seu pai
Susana foi de avião
Com quinze dias de idade
Batendo todos os recordes!

Que tarde que a tarde cai!

Poeta, diz teu anseio
Que o santo te satisfaz:
Queria fazer mais um filho
Queria tanto ser pai!

Voam cardumes de aves
No cristal rosa do ar.
Vontade de ser levado
Pelas correntes do mar
Para um grande mar de sangue!

E a vida passa depressa
No morro do Cavalão
Entre tantas flores, tantas
Flores tontas, parasitas
Parasitas da nação.

Quanta garrafa vazia
Quanto limão pelo chão!

Menina, me diz um verso
Bem cheio de ingratidão?
– Era uma vez um poeta
No morro do Cavalão
Tantas fez que a dor-de-corno
Bateu com ele no chão
Arrastou ele nas pedras
Espremeu seu coração
Que pensa usted que saiu?
Saiu cachaça e limão.

Susana nasceu morena
E é Mello Moraes também:
É minha filha pequena
Tão boa de querer bem!

Oh, Saco de São Francisco
Que eu avisto a cavaleiro
Do morro do Cavalão!
(O Saco de São Francisco
Xavier não chama não
Há de ser sempre de Assis:
São Francisco Xavier
É nome de uma estação)
Onde está minha alegria
Meus amores onde estão?

A casa das mil janelas
É a casa do meu irmão
Lá dentro me esperam elas
Que dormem cedo com medo
Da trinca do Cavalão.

Balança, rede, balança…


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