Esportes
O fim de ano melancólico do Fluminense
Prato sem fundo, abismo sem fim… Definições de desastre não são capazes de explicar o que está se passando com o Fluminense neste momento. Um somatório de “coisas ruins” (para não dizer algo pior) vai levando a equipe carioca para o fiasco nesse fim de ano.
Crise interna
Esse é o ponto de número zero. Zero porque vem antes do um. Zero porque a importância deste fator é imensa. O clube soma ao todo 4 meses sem o pagamento do chamado “direitos de imagem” dos atletas. O desespero é tão grande que o presidente Pedro Abad quitou um mês de salários (CLT) atrasados horas antes da semifinal desta quarta-feira contra o Atlético Paranaense. E ainda sim nada resolveu. A situação caótica estende-se por toda a atmosfera interna.
Não é muito difícil digitar em qualquer site de pesquisa “briga reunião Fluminense” e encontrar inúmeras reportagens contendo matérias de situações de violência nos bastidores tricolor. No episódio mais recente, no dia 9 de outubro, em uma reunião sobre as contas dos anos de 2016 e 2017 houve confronto entre defensores e opositores do presidente Pedro Abad. Uma pessoa “do lado oposto” a atual situação foi agredida e saiu com o nariz sangrando.
Também houve a vez em que levantaram assinaturas a favor do impeachment do presidente. No entanto, esse pedido não foi protocolado, MESMO TENDO ASSINATURAS NECESSÁRIAS. Estranho, não? Aí, a torcida, que não gostou disso, foi às Laranjeiras e soltou rojão, bombas, quebrou vidraças e por aí vai. Isso ocorreu dia 03 de julho.
Diante desse caos, eu poderia aqui fazer um texto completamente indignado com a situação do time e “exigir” que toda essa dívida seja paga. Mas, eu pergunto a você leitor e torcedor (do Flu ou não): como? Com que dinheiro? Quantas vezes não se viu matérias em jornais esportivos dizendo que o dinheiro – fruto de vendas de jogadores – foi penhorado devido a dívidas muito antigas? O clube chegou a ter pouquíssimos funcionários da limpeza trabalhando devido a uma dívida também com a empresa Sanatto (terceirizada). Como exigir que seja pago? Com que dinheiro?
Crise dentro de campo
Um time limitadíssimo. Esse foi o time do Fluminense durante todo o ano. Porém, as coisas já foram melhores… Com Abel Braga, apesar de uma campanha mediana, o Flu estava “bem”. Tinha Pedro em um nível muito bom no ataque, Sornoza indo para o banco às vezes, mas sendo peça fundamental, Richard jogando bem e o goleiro Júlio César dando conta de mais acertos que erros. Com a saída do treinador, esperava-se que tudo fosse naufragar. Na verdade, as coisas melhoraram até. Marcelo Oliveira, bicampeão brasileiro com o Cruzeiro e esquecido no mercado, deu sobrevida ao time e estendeu o bom momento de Pedro até que o jovem se tornou artilheiro da competição. Mas as coisas foram piorando, nível dos jogos foi caindo, aquela ideia de perde um e ganha dois foi se transformando no inverso e o tricolor carioca se transformou em um candidato ao rebaixamento aos poucos. Uma contusão série tirou o atacante do time pelo ano todo e aí tudo degolou.
Claro que você está pensando nas contratações que foram feitas para suprir certos problemas. Alguns nomes chegaram. Todos sem expressão, que poderiam ser gênios no time ou os piores da história. Bryan Cabezas, Luciano, Jr Dutra, Everaldo e Digão. Desses, apenas o zagueiro é absoluto. Everaldo entrou bem em alguns jogos, fez cerca de 4 gols em 4 jogos, mas “já parou” e virou mais um no elenco recheado de limitações.
Falta ao clube carioca o planejamento. Me recordo no meio do ano, quando ficou no ar “vamos trazer um atacante”. E foi considerado o nome de Kléber Gladiador. “Ham? Kléber”? Ele mesmo. Para se ter uma ideia, nem aprovado no exame médico ele foi. Por que não tentar outros jogadores medianos, porém mais produtivos? Hernane Brocador estava jogado por aí, Bressan criticado no Grêmio, Camilo nem aparece no Internacional… Não é possível que não haja um monitoramento de atletas como esses. Mas acredito que o problema financeiro “pega” de novo. Ah, falando em ataque, (conta aí) já soma-se 13 horas sem fazer um golzinho sequer. E isso irá aumentar até a partida de domingo. Será de 31/10 até 2/12. Incrível!
O futuro a Deus pertence
Estou escrevendo esse texto dia 29/11/2018 às 00:24 e não consigo afirmar que domingo, contra o América-MG – dependendo só de um empate –, o time das Laranjeiras não irá cair. O jogo visto hoje contra o Atlético-PR foi tão deprimente, que eu tenho minhas dúvidas sobre como vai ser na última rodada do Brasileirão. Neste momento, o técnico Marcelo Oliveira está dando uma entrevista dizendo que havia jogadores chorando no vestiário diante do que aconteceu hoje. A saber: torcida esvaziando o Maracanã aos 15’ do 2ºT, gritando “Olé” junto com a torcida adversária, xingamentos aos montes para os atletas, fora as vaias ensurdecedoras.
O Fluminense é time grande. Todos sabemos disso, mas precisa arrumar a casa. O estrago da Unimed ainda está lá, ainda gera consequências que passou na responsabilidade de Peter Siemsen também. Caso sobreviva na Série A para 2019, há o temor que para 2020 essa sobrevivência não aconteça. Arrumar a casa às vezes significa cair, chegar num nível complicado, mas voltar, voltar a ser o grande clube que é para o futebol carioca e brasileiro. É hora de arrumar as coisas. Só que se o rombo foi maior do que “meros” 4 meses de direitos de imagem atrasados e receitas penhoradas, não sabemos qual pode ser o destino do Fluminense nos próximos anos. Só resta a torcida cantar, cantar e empurrar ainda que não haja mais forças.
Filipe Vianna – Blog Segue o Jogo